quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Eu não acredito no perdão

Perdão: esta palavra tem várias acepções, entre elas "fórmula de civilidade com que se pede desculpa". Mas na verdade convivemos com o perdão como sendo algo acima da mera desculpa. Perdoar, pode-se dizer, é mais nobre, tem valor maior e normalmente uma carga emocional mais elevada.
É justamente nesta parte que começo a duvidar dele. Explico: não dele, propriamente dito, mas da capacidade do ser humano em ofertá-lo. Está implícito no perdão que a "dívida" está quitada não existindo, portanto, mais nada a reclamar. Porém não é bem assim que funciona entre os homens. Se alguém nos faz algo que nos afete, que cause dor, esperamos que ele se redima e quando isso acontece chega a hora de concedermos o tão esperado perdão. Pra mim, nesta fase já começaram os problemas. Perdoar implicaria superar o que foi causado de maneira definitiva, como se ele não tivesse acontecido. O máximo que conseguimos fazer é uma espécie de sepultura sobre o assunto, colocando sobre ele uma pedra (aí, sim, depende de cada um o tamanho desta rocha. Pode variar, sendo uma simpleste lasquinha de pedra que com um sopro sai do lugar e libera tudo de novo ou um pedregulho que faça jus ao nome). O perigo mora justamente aí.

Quando qualquer atitude do "perdoado" se aproximar (nem sempre precisa ser assim tão próximo) do ato que "perdoamos", pronto: já é o suficiente para, pelo menos, uma pulguinha maldita ficar andando atrás da orelha.

Não sou um cara pessimista. Longe disso. Mas esta minha "tese" sobre perdão vem sobre meus 30 anos de vivência. E não somente a minha. Já conversei com muita gente sobre feridas que foram cicatrizadas e, é explícito em cada um, que elas não vão além disso: feridas cicatrizadas. Dá pra entender o problema? A ferida não está mais sangrando, contudo ela continua lá. Não sumiu.

Justamente por enxergar as coisas deste jeito pude passar a refletir melhor sobre as minhas próprias atitudes. Não adianta eu "fazer e acontecer" com o próximo. Ele pode me perdoar. Mas não apaga nada do que fiz e, o pior, fica lá, marcado pra sempre em quem foi atingido.

Acho perdão uma linda palavra. Ela não foi extinta do meu vocabulário. Só a uso de maneira diferente.


Ouvindo:
Rihanna - Don't Stop the Music

9 comentários:

m disse...

eu também não acredito, desde que signifique lembrança constante.
e, indeferivelmente, coisas que precisam do tal perdão não se apagam.


beijos tantos!

m disse...

não sei se deleite ou acanhameto. talvez os dois :) bom que gostou, embora sejam solilóquios.. fazem bem palavras alheias referindo-se a eles. posso colocar a chave daqui no meu pacote de almas, pra poder vir mais vezes?


beijos tantos!

inutilia sapiens disse...

"Acho perdão uma linda palavra. Ela não foi extinta do meu vocabulário. Só a uso de maneira diferente."

penso que seja esse o ponto principal, aceitar e encaqrar as mazelas da vida de maneira diferente, esperar menos já diminui bastante os sofrimentos...

cara...

seu texto daria uma bela defesa!
abraço e volte sempre.

inutilia sapiens disse...

=)

sou o loirinho da esquerda!
no centro minha irmã e de cabelo preto a direita um primo querido que mora distante!

sobre o comentário, concordo que venham da mesma época e que caminham lado a lado.

abraço.

inutilia sapiens disse...

Agonia de amor, agonia bendita!
- Misto de infinita mágoa e de crença infinita.
Nos desertos da Vida uma estrela fulgura
E o Viajeiro do Amor, vendo-a, triste, murmura:
- Que eu nunca chore assim! Que eu nunca chore como
Chorei, ontem, a sós, num volutuoso assomo,
Numa prece de amor, numa delícia infinda,
Delícia que ainda gozo, oração, prece que ainda
Entre saudades rezo, e entre sorrisos e entre
Mágoas soluço, até que esta dor se concentre
No âmago de meu peito e de minha saudade.
Amor, escuridão e eterna claridade...
- Calor que hoje me alenta e há de matar-me em breve,
Frio que me assassina, amor e frio, neve,
Neve que me embala como um berço divino,
Neve da minha dor, neve do meu destino!
E eu aqui a chorar nesta noite tão fria!
Agonia, agonia, agonia, agonia!
- Diz e morre-lhe a voz, e cansado e morrendo
O Viajeiro vai, e vê a luz e vendo
Uma sombra que passa, uma nuvem que corre,
Caminha e vai, o louco, abraça a sombra e... morre!
E a alma se lhe dilui na amplidão infinita...
Agonia de amar, agonia bendita!


Augusto dos Anjos

você me fez lembrar augusto dos anjos!
=)

inutilia sapiens disse...

reciprocidade!!!
abração.

Flávio disse...

Skinner, em Walden II, fala do perdão como não sendo mais utilizado, já que implica falhas e problemas os quais nem sempre mudam. Como o livro fala de uma sociedade perfeita, na qual o erro é modificado de acordo com os experimentos, a palavra perdão passa a ser utilizada apenas no caso em que você pede a alguém que se retire de seu caminho: "perdão". E, então, a pessoa sai da frente. Bem longe do objetivo de pedir o perdão ou o possível esquecimento de um erro.

Entretanto, muito mais que pensar nesse tal perdão, muito mais que defender a tese de sua não existência; melhor, vou mudar minha questão: muito antes de pensar no tal perdão e bem antes de pensar em sua não existência, é pensar no porquê da escolha da defesa de tal tese. Diria "por que escolhi tal palavra para questionar e refutar logicamente?"... bem provável que haja outras questões mais interessantes por aí... rsr.

Abraço!
Interessante... minhas teses são mais relacionadas com (1) a não existência de Deus, (2) com a não bondade infinita de Deus, e etc e tal.

Vagando no Espaço disse...

Rapaz... disse tudo... concordo com vc em gênero, número e grau.
Vc definiu bem a diferença entre desculpa e perdão.
Eu sempre achei a palavra perdão muito pesada. Confesso que nunca consegui usá-la. Desculpas não. Peço desculpas numa boa. Reconheço qdo erro. Espero não cometer nenhum erro tão grave ao ponto de ter que pedir "perdão" pois sei, como vc disse, que feridas profundas deixam marcas para sempre.
Abraços.

Anônimo disse...

Obrigado por intiresnuyu iformatsiyu